Transtornos na Infância

O instinto natural dos pais é de proteger seus filhos, cuja felicidade e bem-estar são de suma importância. Desse modo, os pais cujos filhos têm problemas mentais ou emocionais podem tender a perguntar: “O que eu fiz de errado?”. A maioria das pessoas considera a infância como sendo um período da vida feliz e sem problemas, assim, quase que se pode esperar que os pais se culpem. Mas as causas das doenças mentais são complexas e nunca são devidas a um único fator.

As crianças também sofrem de transtornos que anteriormente se pensava só afetarem adultos. De 3 a 6 milhões de crianças sofrem de depressão clínica. O suicídio é uma preocupação maior: 14 jovens cometem suicídio todos os dias. Autismo afeta entre 200.000 e 300.000 crianças; transtornos de aprendizado afetam milhões. Aqui estão apresentados uma visão geral e os sintomas das doenças mentais que podem ser vistas em crianças, bem como os tratamentos disponíveis.

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Depressão

Uma em cada 10 crianças entre 6 e 12 anos de idade experimentam sentimentos constantes de tristeza – o símbolo oficial da depressão. Uma vez que as crianças podem não ser capazes de expressar ou entender muitos dos sintomas essenciais que indicariam a depressão nos adultos, os pais devem ficar atentos a alguns comportamentos-chave – adicionados a mudanças nos padrões de alimentação e sono – que podem indicar a depressão nas crianças:

  • Uma queda repentina no desempenho escolar;
  • Perda de interesse ou prazer em atividades anteriormente desfrutadas;
  • Acessos de gritos, reclamações, irritabilidade inexplicada ou choros;
  • Pensamentos de morte ou suicídio;
  • Expressões de medo ou ansiedade;
  • Agressão, recusa em cooperar, comportamento antissocial;
  • Uso de álcool ou de outras drogas;
  • Queixas constantes de dores nos braços, pernas ou estômago, sem causa aparente.

O tratamento é essencial para as crianças que estão lutando com a depressão, para que possam estar livres para desenvolver habilidades acadêmicas e sociais. Durante a psicoterapia, as crianças aprendem a expressar seus sentimentos e a desenvolver maneiras de enfrentar sua doença. Algumas crianças também respondem a medicamentos antidepressivos, mas o uso dessa medicação deve ser acompanhado de perto. A medicação psiquiátrica não deve ser a única forma de tratamento, mas deve ser uma parte de um programa abrangente.

 

Transtorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção / (THDA)

As características principais de THDA incluem hiperatividade, impulsividade, e uma incapacidade em manter a atenção ou a concentração. Esses sintomas principais ocorrem em níveis que causam angústia significativa e diminuição da capacidade, e são muito mais graves do que os tipicamente encontrados em crianças em idades e níveis de desenvolvimento semelhantes. THDA é encontrado em 3% a 5% de crianças em idade escolar. Muito mais comum em meninos do que em meninas, este transtorno frequentemente se desenvolve antes dos 7 anos de idade, mas é diagnosticado mais comumente quando a criança está entre os 8 e 10 anos. As crianças com THDA:

  • Têm dificuldade em concluir qualquer atividade que requeira concentração;
  • Parecem não ouvir nada do que é dito a eles;
  • São excessivamente ativos – correndo ou escalando em momentos inapropriados, contorcendo-se ou pulando de seus acentos;
  • São distraídos facilmente;
  • Falam incessantemente, frequentemente respondendo sem pensar antes da pergunta ser concluída;
  • Têm sérias dificuldades em esperar a sua vez em jogos ou grupos.

E ainda, as crianças com THDA podem ter incapacidades específicas de aprendizado, que podem levar a problemas emocionais em consequência ao atraso na escola ou por receberem advertências constantes dos adultos ou de serem ridicularizadas por outras crianças.

O tratamento pode incluir o uso de medicamentos, programas educacionais especiais para ajudar a criança a acompanhar os outros academicamente, e psicoterapia. Entre 70% e 80% das crianças com THDA respondem à medicação, o que lhes permite uma chance de melhorar a amplitude de sua atenção, desenvolver melhor suas incumbências e controlar o comportamento impulsivo. Consequentemente, as crianças se dão melhor com seus professores, colegas e pais, o que, por sua vez, melhora sua autoestima. A psicoterapia habilita as crianças a enfrentarem seu transtorno e a reação dos outros a ele. Um componente essencial da psicoterapia envolve o trabalho do psiquiatra infantil com ambos, a criança e os pais, para desenvolver técnicas de administração do comportamento.

 

Ansiedade

Quase todas as crianças desenvolvem medo do escuro, de monstros, bruxas ou de outras imagens fantasiosas. Com o tempo, esses medos normais desaparecem. Mas, quando esses medos persistem, ou quando eles começam a interferir na rotina diária normal da criança, pode ser necessária a atenção profissional.

 

Fobias Simples

As fobias simples são medos esmagadores de objetos específicos (como um animal) ou de situações (como ficar no escuro). Os medos são muito comuns entre crianças: quase metade de todas as crianças de 6 a 12 anos de idade têm sete medos ou mais. Entretanto, eles não são fobias, uma vez que esses medos não causam uma aflição substancial ou dano. Na verdade, poucas crianças que sofrem de medos ou mesmo de fobias brandas são tratadas. Contudo, a atenção profissional deve ser procurada se, por exemplo, uma criança tem tanto medo de cachorros que ela fica paralisada a ponto de não sair de casa, independentemente de haver ou não um cachorro nas proximidades.

Um alívio eficaz das fobias pode ser obtido através de medicação e terapia comportamental. A terapia comportamental envolve a confrontação do objeto temido ou da situação, de um modo cuidadosamente planejado e gradual, bem como aprender a controlar as reações físicas ao medo.

 

Transtorno de Ansiedade da Separação

Como o nome revela, crianças com transtorno de ansiedade da separação desenvolvem uma ansiedade intensa, até mesmo ao ponto do pânico, quando são separados de um dos pais ou de outro ente querido. Ela aparece, muitas vezes, repentinamente, em uma criança que não mostrou sinais anteriores de um problema. Essa ansiedade é tão intensa que interfere com as atividades normais da criança. Quando estas crianças são separadas de um dos pais, elas se tornam preocupadas com medos mórbidos de que acontecerá algum mal a elas ou de que eles nunca ficarão unidos novamente. A ansiedade da separação pode fazer surgir o que é conhecido como fobia escolar, onde as crianças se recusam a ir à escola porque temem separar-se dos pais.

A medicação pode reduzir significativamente a ansiedade e permitir a essas crianças o retorno à sala de aula. Essas medicações podem também reduzir os sintomas físicos que muitas dessas crianças sentem, como náusea, dores de estômago ou tontura. A psicoterapia também tem se mostrado útil para reduzir e ajudar a criança a superar a ansiedade causada pela separação.

 

Transtorno de Conduta

As crianças com transtorno de conduta exibem um comportamento que mostra uma desconsideração contínua pelas normas e regras da sociedade. O transtorno de conduta, um dos transtornos mais frequentemente vistos em adolescentes, afeta aproximadamente 6% a 16% dos meninos e 2% a 9% das meninas com menos de 18 anos.

Porque os sintomas estão intimamente ligados ao comportamento socialmente inaceitável ou violento, muitas pessoas confundem esta doença com a delinquência juvenil ou a turbulência da adolescência. Contudo, jovens com transtorno de conduta muitas vezes têm problemas subjacentes que foram ignorados, como a epilepsia ou um histórico de ferimentos na cabeça ou no rosto. As crianças que demonstraram no mínimo três dos seguintes comportamentos, durante 6 meses, devem ser avaliadas por um possível transtorno de conduta:

  • Roubar;
  • Mentir constantemente;
  • Causar incêndios deliberadamente;
  • Faltar à escola;
  • Arrombar carros, casas ou escritórios;
  • Destruir deliberadamente propriedades alheias;
  • Mostrar crueldade física com animais ou humanos;
  • Forçar outros a atividade sexual;
  • Começar brigas frequentemente;
  • Usar armas em brigas.

É essencial o tratamento adequado para o transtorno de conduta. Visando ajudar os jovens a perceber e entender o efeito que seu comportamento tem nos outros, o tratamento inclui a terapia comportamental e a psicoterapia, em sessões individuais ou em grupo. Alguns adolescentes têm depressão ou THDA somados ao transtorno de conduta. Para essas crianças, o uso de medicação e a psicoterapia têm ajudado a diminuir os sintomas do transtorno de conduta.

 

Autismo

As crianças com autismo, que atinge cerca de cinco em cada 10.000 crianças, têm a habilidade em se comunicar e interagir com outros dramaticamente prejudicada. O nível de atividade e a extensão dos interesses dessas crianças são também extremamente limitados. O autismo é geralmente aparente quando a criança tem 2 anos e meio de idade. É três vezes mais comum em meninos do que em meninas.

Quando bebês, as crianças com autismo não abraçam e podem ainda se retesar e resistir à afetividade. Muitos não olham para quem cuida deles e podem reagir com todos os adultos com a mesma indiferença. Por outro lado, alguns se apegam tenazmente a uma pessoa específica. Em ambos os casos, as crianças com autismo não conseguem desenvolver relacionamentos normais com ninguém – nem mesmo com seus pais.

Conforme vão crescendo, essas crianças também não conseguem desenvolver amizades e, geralmente, preferem brincar sozinhas. As crianças autistas não conseguem se comunicar bem porque elas nunca aprenderam a falar, elas não entendem o que lhes é dito ou falam uma língua própria. Às vezes elas podem dizer repetidamente frases ou palavras que ouviram em conversas ou na televisão. Algumas também praticam movimentos repetitivos como torcer ou abanar as mãos e os braços, ou bater suas cabeças. Algumas crianças se preocupam com partes de objetos, ou ficam extremamente ligadas a um objeto incomum, como um pedaço de barbante ou uma tira de borracha. Elas ficam aflitas quando alguma parte de seu ambiente é modificada. Do mesmo modo, essas crianças insistem em seguir rotinas rígidas detalhadamente.

Embora a doença seja crônica, terapias diferentes podem trazer benefícios para o tratamento de vários dos sintomas do autismo. Uma identificação precoce e consequente intervenção pode ajudar as crianças com autismo a maximizarem seu potencial.

Infelizmente, a infância não oferece nenhuma proteção contra as doenças mentais. Para os pais, a chave para lidar com esses transtornos da infância é reconhecer o problema e procurar o tratamento apropriado. Assim como outros tipos de doenças, os transtornos mentais têm critérios específicos de diagnósticos e tratamentos, e uma avaliação completa por um psiquiatra infantil pode determinar se a criança precisa de ajuda.